BP afasta entrada no negócio de combustíveis ‘low cost’
A prioridade da petrolífera é manter a quota de mercado em Portugal, que oscila actualmente entre 18% e 20%.
As petrolíferas que operam em Portugal, apesar de estarem fortemente pressionadas pela fuga de clientes para as marcas brancas e para os hipermercados, recusam entrar no negócio dos combustíveis ‘low cost'. E a BP Portugal, com cerca de 20% do mercado de distribuição e com numerosos activos na área da armazenagem e da logística, não é excepção.
Em entrevista ao Diário Económico, o presidente da empresa em Portugal, Francisco Vieira, garante que esta opção não faz parte dos planos da companhia. "Há a convicção de que, sendo o ‘low cost' um segmento de mercado acessível, é possível de implantar. Isto tem, porém, a ver com estratégias de mercado. Na nossa opinião, é um modelo de negócio, à semelhança do que acontece com as companhias aéreas. Implica um determinado tipo de investimento e infra-estruturas que têm de ser feitas de raiz", argumenta o gestor.
"Nos hipermercados, o combustível é um modelo acessório da actividade de distribuição. Existe uma série de sinergias que permitem montar um negócio, que é lateral e que possui custos de operação e funcionamento significativamente mais baixos do que um posto de combustível de marca, com todo o investimento que está associado a essa rede de distribuição", sublinha Francisco Vieira. "Nós temos, porém, uma marca que custa muito dinheiro e que queremos manter sob os mesmos valores", explica.
Francisco Vieira defende que a concorrência é a arma mais eficaz para pressionar a descida dos preços. "Em determinadas áreas do País, onde existe uma verdadeira competição, mais potenciada pela presença de hipermercados e pelas marcas brancas, a maioria das petrolíferas acaba por entrar num posicionamento táctico de preços que objectivamente estão em linha com o ‘low cost'. Mas aqui não há diferença quanto ao tipo de combustível usado. São os mesmos que usamos na nossa rede e não combustíveis de menor qualidade e mais acessíveis", defende.
Os hipermercados e operadores independentes concentram hoje mais de 24% do mercado. Um número que está bem longe dos 15% registados há três anos. Ainda assim, a Galp controla 35% do restante bolo, partilhando a Repsol e a BP cerca de 20%, cada uma.
A crítica do gestor é igualmente extensível ao possível cenário de imposição de uma rede de ‘low cost', por parte do poder político. "Não vejo como é que a lei pode, num mercado liberalizado da União Europeia e da OCDE, forçar uma companhia a vender através de determinados modelos de negócio que não são os seus. Vamos esperar para ver."
Francisco Vieira contesta ainda a cedência de infra-estruturas de logística e armazenamento a terceiros, como forma de incentivar a importação de combustíveis. Em causa está a promessa, por concretizar, do Governo de José Sócrates, no âmbito da regulamentação da lei bases do sector petrolífero.
"Quanto aos pontos de entrada de combustíveis e aos terminais de armazenamento, não há qualquer barreira à construção de mais infra-estruturas. Só não há mais porque ninguém quer investir. Há pontos no País e há portos que têm terrenos para concessão. O que não é expectável é que, a custo zero, todas as instalações de armazenagem e transporte que foram fruto do investimento das companhias sejam, de repente, postos nas mãos de terceiros", defende.
A BP importa actualmente cerca de 25% do combustível que consome na sua rede no mercado português.
A aposta numa carreira petrolífera
Com uma carreira fortemente ligada ao sector petrolífero, Francisco Vieira está há seis meses à frente dos destinos da BP Portugal. O gestor, depois de ter passado pela Mobil Oil e pelo exército, como oficial engenheiro, acabaria por ingressar na BP Portugal em 1993. Com 58 anos, Francisco Vieira é licenciado em engenharia mecânica, pelo Instituto Superior Técnico.
fonte:http://economico.sapo.pt/