Se os preços recorde se mantiverem, os portugueses vão pagar este ano mais 700 euros em combustível face aos valores de 2009.
Lembra-se dos tempos em que com apenas uma nota de 50 euros atestava o depósito e ainda recebia troco? Para muitos consumidores estes tempos parecem já longínquos. Mas não são assim tão remotos. Em 2009, por exemplo, abastecer um depósito de 50 litros de gasóleo custava 50,15 euros. Hoje, o mesmo depósito custa 78,45 euros. Um aumento de 56% em apenas três anos. Já abastecer um carro a gasolina está 36% mais caro hoje do que naquela altura. Se acha que estes números são assustadores, prepare-se, pois a escalada de preços pode não ter terminado.
António Comprido, secretário geral da Associação Portuguesa das Empresas Petrolíferas (APETRO) explica que a alta dos preços dos combustíveis está sobretudo relacionada com a evolução do petróleo e dos produtos derivados nos mercados internacionais. "Por um lado estamos a assistir a um maior consumo destes bens, por causa do Inverno, para combater o frio. E acredito que brevemente com a chegada da Primavera este factor de pressão possa amenizar". Ou seja, por esse lado, os preços dos combustíveis poderão aliviar. Mas este responsável alerta ainda para um outro factor "mais geo-político" que está a levar os preços dos combustíveis para valores recorde e que ainda não tem uma solução à vista: a questão do embargo do Irão. Recorde-se que, no final de Janeiro, a União Europeia impôs um embargo às importações de petróleo iraniano, com efeitos a partir de 1 de Julho, como uma medida de sanção pelo facto de o Irão não ter colocado um ponto final no seu programa nuclear. Como retaliação, o Irão decidiu em Fevereiro colocar um embargo imediato às exportações de petróleo para alguns países europeus. Com a tensão latente, os agentes de mercado receiam ainda que o Irão possa fechar ou boquear o estreito de Ormuz, por onde passa mais de 35% do petróleo mundial.
Para Pedro Oliveira, ‘trader' da Go Bulling, só uma resolução das tensões iranianas poderia levar a uma estabilização ou até a uma correcção dos preços do petróleo, com o consequente reflexo na queda dos preços dos combustíveis. Mas segundo este especialista a expectativa do mercado é que os preços vão continuar a subir. "As projecções dos analistas para este ano apontam para que o crude se situe no final do ano nos 120 dólares, quando agora está nos 108 dólares. Já para o ‘brent' as estimativas apontam para uma cotação em torno dos 140 dólares, face aos actuais 124 dólares. Ou seja, ainda estamos longe dos valores previstos e ainda há espaço para mais subidas".
Qual será então a solução para travar o aumento dos preços dos combustíveis? Para António Comprido da APETRO, não há muito a fazer, já que a grande componente que mais pesa na definição do preço final dos combustíveis é a cotação dos produtos refinados nos mercados internacionais. "Já a margem de manobra das companhias e retalhistas é muito pequena", refere o responsável. E, segundo António Comprido, as companhias petrolíferas já estão a utilizar esta margem para promoverem campanhas de fidelização e de atribuição de pontos e descontos a clientes, "para conseguirem segurar os volumes de venda de combustíveis". Uma intervenção estatal na definição dos preços está também fora de questão. Além de ser uma acção contraproducente num mercado que é liberalizado, António Comprido lembra que "a única almofada que existe para o Governo baixar os preços será através do alívio da carga fiscal sobre este sector", algo que não deverá acontecer tendo em conta o caminho de austeridade a que o País está submetido.
Sem solução à vista para este problema, os portugueses têm de encontrar soluções para fintar a a subida da factura com os combustíveis. E que não tem subido tão pouco quanto isso. Segundo uma simulação feita pelo Diário Económico uma pessoa que tenha um carro a gasóleo com um consumo médio de 7 litros por cada 100 km e que faça um trajecto diário de 50 km por dia, chegará ao final do ano e pagará um total de 1.882 euros em combustíveis (tendo em conta os preços recorde atingidos esta semana em Portugal). Trata-se de mais 679 euros, face à factura paga pelo mesmo combustível em 2009 - tendo em conta os preços médios praticados nesse ano. Já quem tem carro movido a gasolina 95 terá uma factura total este ano 488 euros mais cara do que o registado em 2009.
Para contornar esta subida de custos terá de pôr mãos à obra e fazer o seu trabalho de casa comparando as ofertas de preços entre as várias marcas e aproveitando os descontos atribuídos pelas diversas parceiras que as petrolíferas estabelecem com bancos e cadeias de supermercados. Veja no texto ao lado quanto poderá poupar se fizer a escolha correcta.
Dicas para poupar:
1 - Marcas brancas são mais baratas
Há um dado que salta à vista e que é irrefutável: os postos de abastecimento de combustível mais baratos pertencem às marcas brancas, ligadas às cadeias de hipermercados. A diferença de preços é explicada pelo facto de os combustíveis destas bombas não terem aditivos como os vendidos nas marcas de referência.
2 - Evite abastecer nas auto-estradas
É nas auto-estradas que se praticam os preços mais-elevados nos combustíveis. Por isso mesmo, antes de partir para uma viagem, tente atestar o depósito do seu veículo na sua zona, para evitar fazer um novo abastecimento nas estações de serviço das auto-estradas.
3 - Esteja atento aos descontos
As marcas de referência como a Galp, a BP ou a Repsol, por exemplo, têm diversas parcerias estabelecidas com cadeias de hipermercados e entidades financeiras que permitem aos consumidores beneficiarem de descontos de até seis cêntimos por litros. Aproveite estas campanhas.
4 - Faça as contas
Não só por causa da alta dos preços dos combustíveis, mas também pela própria situação que o país atravessa, faça as contas e veja se compensa financeiramente levar o carro para o trabalho todos os dias. Se os custos associados ao combustível forem demasiado elevados pense em outras alternativas como o uso dos transportes públicos ou a partilha do carro (e das suas despesas) com outras pessoas.
fonte:http://economico.sapo.pt/